Conheça neste 8º Episódio do PodSaber Especial Recordando Chico Xavier a história e as histórias de Wanda Joviano, filha de Rômulo e Maria Joviano e neta de Arthur Joviano. Wanda foi companheira de trabalho de Chico Xavier na Fazenda Modelo e também convivia com o médium mineiro na cidade de Pedro Leopoldo - MG. Recebeu Chico na casa de seus pais para fazer cultuo no lar. Conheça um pouco mais do ponto de vista de quem conviveu com Chico desde muito cedo.
Ficha Técnica:
Técnico de Gravação: Henrique Lisboa
Design:Thiago Panegassi
Edição: Henrique Lisboa
Webmaster: Marco Gandra / Henrique Lisboa
Participantes: Silvana Saldanha, Marco Gandra, Dauro Mendes, Geraldo Lemos Neto, Luis Sérgio Marotta, Henrique Lisboa, Lívia Dias, Elcio, Denis Perdigão
Música de Abertura:
Chico Xavier - Fábio Jr
FILME INÉDITO - Nunca antes veiculado na Internet
Abaixo, quadro de reencarnações (Clique na imagem para ampliação)
Ante as portas livres
Ante as portas livres de acesso
ao trabalho cristão e ao conhecimento salutar que André Luiz vai desvelando,
recordamos prazerosamente a antiga lenda egípcia do peixinho vermelho.
No centro de formoso jardim,
havia grande lago, adornado de ladrilhos azul-turquesa.
Alimentado por diminuto canal de
pedra, escoava suas águas, do outro lado, através de grade muito estreita.
Nesse reduto acolhedor, vivia
toda uma comunidade de peixes, a se refestelarem, nédios e satisfeitos, em
complicadas locas, frescas e sombrias.
Elegeram um dos concidadãos de
barbatanas para os encargos de rei, e ali viviam, plenamente despreocupados,
entre a gula e a preguiça.
Junto deles, porém, havia um
peixinho vermelho, menosprezado de todos.
Não conseguia pescar a mais leve
larva, nem refugiar-se nos nichos barrentos.
Os outros, vorazes e
gordalhudos, arrebatavam para si todas as formas larvárias e ocupavam,
displicentes, todos os lugares consagrados ao descanso.
O peixinho vermelho que nadasse
e sofresse. Por isso mesmo era visto, em correria constante, perseguido pela
canícula ou atormentado de fome.
Não encontrando pouso no
vastíssimo domicilio, o pobrezinho não
dispunha de tempo para muito
lazer e começou a estudar com bastante interesse.
Fez o inventário de todos os
ladrilhos que enfeitavam as bordas do poço, arrolou todos os buracos nele
existentes e sabia, com precisão, onde se reuniria maior massa de lama por
ocasião de aguaceiros.
Depois de muito tempo, à custa
de longas perquirições, encontrou a grade
do escoadouro.
A frente da imprevista
oportunidade de aventura benéfica, refletiu consigo:
— “Não será melhor pesquisar a
vida e conhecer outros rumos?”
Optou pela mudança.
Apesar de macérrimo pela
abstenção completa de qualquer conforto, perdeu várias escamas, com grande
sofrimento, a fim de atravessar a passagem estreitíssima.
Pronunciando votos renovadores,
avançou, otimista, pelo rego d’água, encantado com as novas paisagens, ricas de
flores e sol que o defrontavam, e seguiu, embriagado de esperança ...
Em breve, alcançou grande rio e fez
inúmeros conhecimentos.
Encontrou peixes de muitas
famílias diferentes, que com ele simpatizaram, Instruindo-o quanto aos
percalços da marcha e descortinando lhe mais fácil roteiro.
Embevecido, contemplou nas
margens homens e animais, embarcações e pontes, palácios e veículos, cabanas e
arvoredo.
Habituado com o pouco, vivia com
extrema simplicidade, jamais perdendo a leveza e a agilidade naturais.
Conseguiu, desse modo, atingir o
oceano, ébrio de novidade e sedento de estudo.
De Inicio, porém, fascinado pela
paixão de observar, aproximou-se de uma baleia para quem toda a água do lago em
que vivera não seria mais que diminuta ração; impressionado com o espetáculo,
abeirou-se dela mais que devia e foi tragado com os elementos que lhe
constituíam a primeira refeição diária.
Em apuros, o peixinho aflito
orou ao Deus dos Peixes, rogando proteção no bojo do monstro e, não obstante as
trevas em que pedia salvamento, sua prece foi ouvida, porque o valente
cetáceo começou a soluçar e vomitou, restituindo-o às correntes marinhas.
O pequeno viajante, agradecido e
feliz, procurou companhias sim páticas e aprendeu a evitar os perigos e
tentações.
Plenamente transformado em suas
concepções do mundo, passou a reparar as infinitas riquezas da vida. Encontrou
plantas luminosas, animais estranhos, estrelas móveis e flores diferentes no
seio das águas. Sobretudo, descobriu a existência de muitos peixinhos,
estudiosos e delgados tanto quanto ele, junto dos quais se sentia
maravilhosamente feliz.
Vivia, agora, sorridente e
calmo, no Palácio de Coral que elegera, com centenas de amigos, para residência
ditosa, quando, ao se referir ao seu começo laborioso, veio a saber que somente
no mar as criaturas aquáticas dispunham de mais sólida
garantia, de vez que, quando o estio se fizesse mais arrasador, as águas de outra
altitude continuariam a correr para o oceano.
O peixinho pensou, pensou... e
sentindo imensa compaixão daqueles com quem convivera na infância,
deliberou consagrar-se à obra do progresso e salvação deles.
Não seria justo regressar e
anunciar-lhes a verdade? não seria nobre ampará-los, prestando-lhes a
tempo valiosas informações? Não hesitou. Fortalecido pela generosidade de
irmãos benfeitores que com ele viviam no Palácio de Coral, empreendeu
comprida viagem de volta.
Tornou ao rio, do rio dirigiu-se
aos regatos e dos regatos se encaminhou para os canaizinhos que o conduziram ao
primitivo lar.
Esbelto e satisfeito como
sempre, pela vida de estudo e serviço a que se devotava, varou a grade e
procurou, ansiosamente, os velhos companheiros.
Estimulado pela proeza de amor
que efetuava, supôs que o seu regresso causasse surpresa e entusiasmo gerais.
Certo, a coletividade inteira lhe celebraria o feito, mas depressa verificou
que ninguém se mexia.
Todos os peixes continuavam
pesados e ociosos, repimpando-nos mesmos ninhos lodacentos, protegidos por
flores de lótus, de onde saiam apenas para disputar larvas, moscas ou minhocas
desprezíveis.
Gritou que voltara a casa, mas
não houve quem lhe prestasse atenção, porquanto ninguém, ali, havia
dado pela ausência dele.
Ridiculizado, procurou, então, o
rei de guelras enormes e comunicou-lhe a reveladora aventura.
O soberano, algo entorpecido
pela mania de grandeza, reuniu o povo e permitiu que o mensageiro se
explicasse.
O benfeitor desprezado,
valendo-se do ensejo, esclareceu, com ênfase, que havia outro mundo liquido,
glorioso e sem fim. Aquele poço era uma Insignificância que podia
desaparecer, de momento para outro. Além do escoadouro próximo desdobravam-se
outra vida e outra experiência. Lá fora, corriam regatos ornados de flores,
rios caudalosos repletos de seres diferentes e, por fim, o mar, onde a vida
aparece cada vez mais rica e mais surpreendente.
Descreveu o serviço de tainhas e
salmões, de trutas e esqualos. Deu notícias do peixe-lua, do peixe-coelho e do
galo-do-mar. Contou que vira o céu repleto de astros sublimes e que descobrira
árvores gigantescas, barcos imensos, cidades praieiras, monstros temíveis,
jardins submersos, estrelas do oceano e ofereceu-se para conduzi-los ao Palácio
de Coral, onde viveriam todos, prósperos e tranquilos. Finalmente os informou
de que semelhante felicidade, porém, tinha igualmente seu preço. Deveriam todos
emagrecer, convenientemente, abstendo-se de devorar tanta larva e tanto verme
nas locas escuras e aprendendo a trabalhar e estudar tanto quanto era
necessário à venturosa jornada.
Assim que terminou, gargalhadas
estridentes coroaram-lhe a preleção.
Ninguém acreditou nele.
Alguns oradores tomaram a
palavra e afirmaram, solenes, que o peixinho vermelho delirava, que outra vida
além do poço era francamente impossível, que aquela história de riachos, rios e
oceanos era mera fantasia de cérebro demente e alguns chegaram a declarar que
falavam em nome do Deus dos Peixes, que trazia os olhos
voltados para eles unicamente.
O soberano da comunidade, para
melhor ironizar o peixinho, dirigiu-se em companhia dele até à grade de
escoamento e, tentando, de longe, a travessia, exclamou, borbulhante:
— “Não vês que não cabe aqui nem
uma só de minhas barbatanas?
Grande tolo! Vai-te daqui! Não
nos perturbes o bem-estar... Nosso lago é o centro do Universo... Ninguém
possui vida igual à nossa!
Expulso a golpes de sarcasmo, o
peixinho realizou a viagem de retorno e instalou-se, em definitivo, no Palácio
de Coral, aguardando o tempo.
Depois de alguns anos, apareceu
pavorosa e devas tadora seca.
As águas desceram de nível. E o
poço onde viviam os peixes pachorrentos e vaidosos esvaziou-se,
compelindo a comunidade inteira a perecer, atolada na lama...
EMMANUEL - Pedro Leopoldo, 22 de
fevereiro de 1949.
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