Estimados amigos que acompanham o Portal Saber Espiritismo,
retomamos os estudos em torno do Apocalipse de João, agora para abordarmos do seu tema nuclear.
Entendemos que a compreensão da mensagem contida na grande revelação deve se iniciar pela identificação do assunto central de que trata.
Esperamos que as linhas que seguem possam contribuir de alguma forma para essa avaliação.
Belo Horizonte, 17 de maio de 2019.
Marco Paulo Denucci Di Spirito
Portal Saber Espiritismo
***
–
O objeto do Apocalipse. Previsões sobre dias futuros. A grande tribulação
seguida do dia do Senhor (o grande dia). Tempo do fim, fim dos tempos, fim dos
dias. O dia do julgamento, o aparecimento do arco sobre nuvens, o retorno de
Jesus, a atuação divina sobre o lagar da vinha, o envio do Paráclito e a
consolidação da Nova Jerusalém
Dando sequência ao estudo anteriormente
publicado neste portal, cabe
avaliar qual é o objeto do livro bíblico Apocalipse. Propõe-se refletir, aqui,
do que trata o grande livro das revelações, entre seus temas principais e
derivados. O produto da mediunidade de João pode ser avaliado dos seguintes
ângulos, que se tocam em vários pontos: (i)
da estrutura quiástica da narrativa, (ii)
das revelações acerca do futuro contidas no texto; (iii) do conjunto mais amplo da revelação, especificamente pela
integração entre o livro de Daniel e o próprio livro do Apocalipse; (iv) do sentido geral do Apocalipse,
considerando-o uma mensagem com início, meio e fim; (v) do encadeamento da grande revelação nos ciclos gerais da Bíblia.
Conforme dito anteriormente, o
Apocalipse é narrado em forma de quiasmo, seguindo um estilo literário comum à
época, pelo qual se localizam três estruturas principais, que estabelecem a
separação de partes do texto. O trecho central do quiasmo, que corresponde à
segunda parte, une dois “braços” que se conjugam inversamente e que
correspondem às primeira e terceira partes do texto. Como todo quiasmo, no seu
centro encontra-se um ponto que se quer destacar.
No caso do Apocalipse, o centro do seu quiasmo geral corresponde aos períodos
da grande tribulação e do dia do Senhor. Confira-se o seguinte esquema:
Tratar do realce à grande tribulação e ao
dia do Senhor é o mesmo que reconhecer sua importância para identificação do
objeto do Apocalipse. Para o adequado aproveitamento do que a estrutura
quiástica tem a nos ensinar, é oportuno
compreender a correlação entre o significado de Apocalipse, o sentido de
grande tribulação e o conteúdo do chamado dia do Senhor (Ap 1:10), uma vez que
essas noções se encontram diretamente vinculadas ao objeto da antiga profecia.
A palavra apocalipse, como visto, deriva do
grego ἀποκάλυψις, que significa “tirar
o véu”. Assim, o
termo que causa tanto temor quer dizer, na verdade, revelação. Mas revelação do
quê? No caso da lavra mediúnica do apóstolo João, a revelação é, evidentemente,
sobre o conteúdo do que ele escreveu, contido no livro tradicionalmente situado
como último da Bíblia, sob o título de Apocalipse. Compreender esse conteúdo é
o objetivo do presente estudo. Pode-se adiantar, todavia, que entre os objetos
principais da revelação está a grande tribulação e o dia do Senhor. Também é
necessário, aqui, lembrar o que se entende por revelação em termos espíritas, e
nesse sentido recomenda-se a leitura do Capítulo I do livro A Gênese, cujo
título é “Natureza da Revelação Espírita”. Sem pretender resumir o que ali está
explicado, importa destacar que “o caráter essencial da revelação divina é o da
eterna verdade.” (A Gênese, Cap. I, item 10). Significa dizer que, segundo o
critério espírita, os textos antigos são estudados para a extração daquilo que
é informação mediúnica superior e, portanto, confiável. O objetivo é obter a
verdade informada pela via mediúnica, mediante o discernimento racional que
deixa de lado os resíduos das concepções humanas.
É fato que o livro do Apocalipse não esgota
o que se denomina de literatura apocalíptica. Mas o que a caracteriza? Cuida-se
de noção controversa, assim como a de escatologia. Esses temas não serão
problematizados nesta obra, contudo devemos pontuar que nosso entendimento é
pela sua superação, principalmente, em razão da devida compreensão do fenômeno
mediúnico e da revelação que por intermédio dele chega aos homens, com destaque
para a faculdade de presciência, incomparavelmente teorizada a partir dos
trabalhos de Allan Kardec. Para a leitura do Apocalipse de João servem menos as
rotulações gerais, que pretendem vincular a característica apocalíptica para
determinado texto e serve mais a identificação de passagens que são chaves
interpretativas para as profecias mediúnicas do pretérito. Tarefa essa que se
faz de uma perspectiva semântica, de compreensão da mensagem deixada pelo autor
espiritual para a posteridade e de busca da verdade na informação mediúnica.
O conteúdo da revelação, então, está nos
significados contidos no Apocalipse. Neste tópico, pretende-se delinear os
assuntos principais abordados nesta grande revelação que fecha o compêndio
chamado Bíblia. Assim, retornando à estrutura quiástica, tem-se que o seu
centro contém a grande tribulação, cujo significado foi abordado no estudo
anterior. Mas é
necessário, ainda, considerar uma noção relacionada à de grande tribulação, que
é a do chamado dia do Senhor, mencionado em Ap 1:10. É sabido que o Apocalipse
de João emprega substantivos diversos para referir-se aos mesmos sentidos. As
noções de grande tribulação e de dia do Senhor, apesar de possuírem pontos em
comum, não são idênticas. Aquela denota as dores e aflições do período,
enquanto a última denota a vitória, a prevalência das Leis Divinas. O dia não é
dos homens e suas iniquidades, e sim do Senhor, a caracterizar alguma atuação
notável de Sua parte. Sustenta-se neste estudo que a grande tribulação dá
ênfase à atuação da besta apocalíptica – o institucionalismo religioso romano -
durante o período em que dominou. O dia do Senhor, por sua vez, indica período
posterior, que se inicia com a vinda do Espiritismo, também antevista pelo
signo na sétima taça (Ap 16:17). Os dois conceitos são relacionados porque no
conjunto se referem ao período de desvio dos puros ensinamentos de Jesus e a
consequente resposta (= retribuição) por parte de Deus, que viria no momento
apropriado para restabelecer o entendimento das Leis Maiores, exatamente a
divulgação por toda parte dos ensinamentos dos espíritos. É por meio do
Espiritismo que o Senhor prevalece sobre as deturpações humanas na seara
religiosa.
O tema nuclear do Apocalipse está no centro
da estrutura quiástica (Ap 12:1 a 15:4), e refere-se ao contraponto entre a
grande tribulação (Ap 11: 1 a 10, 12, 13, 15, 16: 1 a 14, 17) e o dia do Senhor
(Ap 11: 11 a 19, 14, 16: 15 a 21). A relação entre a primeira trombeta e a
sétima taça, estabelecida pelo espelhamento quiástico do texto, confirma esse
núcleo. A primeira trombeta (Ap 8:7 e ss.) apresenta símbolos que anunciam
retribuição divina, efetiva atuação da lei de causa e efeito ante a deturpação
dos tesouros espirituais entregues à humanidade. Já a sétima taça (Ap 16:17 e
ss.) aduz elementos que consistem em agentes simbólicos do Espiritismo. A
combinação de Ap 8:7 e ss. e de Ap 16:17 e ss., na linha do espelhamento
inverso típico da estrutura quiástica, é um resumo do objeto do Apocalipse. O
contraponto dessas passagens revela a dualidade desvio/restauração sobre a
seara dos ensinamentos divinos, reproduzindo a síntese contida em Jl 2:3 e 3:3
a 5. É o mesmo sentido da dualidade grande tribulação/dia do Senhor.
Assim como se dedicou, no estudo anterior, algumas linhas para a
compreensão da grande tribulação, cabe apontar os fundamentos, nas escrituras,
do chamado dia do Senhor. A expressão é encontrada em passagens como At 2:17-20,
2Ts 2:1-4, 2Pe 3:10, Ap 1:10 e também é indicada por “dia de Iahweh” (e.g., Ml 2:17, 3:1-5) ou “o grande dia”
(e.g., Jr 30:7, Sf 1:14, At 2:17-20,
Jd 1:6, Ap 6:17). As passagens bíblicas transcritas abaixo auxiliam sobremodo a
situar o dia do Senhor na cronologia da história terrena:
“Quanto à Vinda de nosso
Senhor Jesus Cristo, e à nossa reunião com ele, rogamo-vos, irmãos, que não
percais tão depressa a serenidade de espírito, e não vos perturbeis nem por
palavra profética, nem por carta que se diga vir de nós, como se o Dia do
Senhor já estivesse próximo. Não vos deixeis enganar de modo algum por pessoa
alguma; porque deve vir primeiro a apostasia, e aparecer o homem ímpio, o filho
da perdição, o adversário, que se levanta contra tudo que se chama Deus, ou
recebe um culto, chegando a sentar- se pessoalmente no templo de Deus, e
querendo passar por Deus.” (2Ts 2:1-4)
“Antes de mais nada, deveis
saber que nos últimos dias virão escarnecedores com os seus escárnios e levando
uma vida desenfreada, de acordo com as suas próprias concupiscências. O seu tema
será: ‘Em que ficou a promessa da sua vinda? De fato, desde que os pais morreram,
tudo continua como desde o princípio da criação! (...) O Dia do Senhor chegará
como ladrão e então os céus se desfarão com estrondo, os elementos, devorados
pelas chamas, se dissolverão e a terra, juntamente com as suas obras, será
consumida.” (2Pe 3:1-10)
“Um fogo devora diante dele e
atrás dele a chama arde. Como o Jardim do Éden é a terra diante dele, e atrás
dele um deserto desolado. Nada, em absoluto, lhe escapa.” (Jl 2:3 - The Tree of
Life Version of the Holy Scriptures).
“Sucederá nos últimos dias,
diz o Senhor, que derramarei do meu Espírito sobre toda carne. Vossos filhos e
vossas filhas profetizarão, vossos jovens terão visões e vossos velhos
sonharão. Sim, sobre meus servos e minhas servas derramarei do meu Espírito. E
farei aparecerem prodígios em cima, no céu, e sinais embaixo, sobre a terra. O
sol se mudará em escuridão e a lua em sangue, antes que venha o Dia do Senhor,
o grande Dia. E então, todo o que invocar o nome do Senhor, será salvo.” (At 2:17-20)
“Logo após a
tribulação daqueles dias, o sol escurecerá, a lua não dará a sua
claridade, as estrelas cairão do céu e os poderes dos céus serão abalados.
Então aparecerá no céu o sinal do Filho do Homem e todas as tribos da terra
baterão no peito e verão o Filho do Homem vindo sobre as nuvens do céu com
poder e grande glória. Ele enviará os seus anjos que, ao som da grande
trombeta, reunirão os seus eleitos dos quatro ventos, de uma extremidade até
a outra extremidade do céu.” (Mt 24:29-31)
Conforme consta em 2Ts 2:1-4, primeiro
ocorreria o desvio dos ensinamentos de Jesus, a já mencionada traição ou
defecção (= apostasia), para só depois se concretizar o dia do Senhor. Já de
acordo com o texto de 2Pe 3:1-10, antes do dia do Senhor se manifestaria o
escarnecedor, aquele para cujo comportamento o testemunho do Cristo não faria
diferença. Nos termos da mesma passagem, na sequência sobreviria o dia do
Senhor, que chegaria de surpresa (= como um ladrão), tal como também consta em
1Ts 5:2 - “o Dia do Senhor virá como ladrão noturno”, ou como anunciado no
Sermão Profético – “o Filho do Homem virá numa hora que não pensais.” (Mt
24:44). Em Joel (Jl 2:3) o sujeito da oração é o dia do Senhor, que ali opera
qual marco temporal. Antes dele, tem-se o deserto desolado e, diante dele, ou
seja, em perspectiva temporal para o futuro, o Éden. Ocorre que o deserto é
símbolo para referir-se ao produto da ação da besta apocalíptica, que à luz da
parábola dos lavradores maus transforma a boa vinha (= recursos espirituais)
em terreno árido ou infértil. O que se visualiza depois do dia do Senhor pode
ser bem compreendido pelo que consta em Obras Póstumas: “mundos superiores,
verdadeiros Édens onde os Espíritos adiantados gozam da felicidade que
conquistaram”. (Primeira Parte, Cap. 10). De sorte que o Éden é a reconquista
do “paraíso perdido” no planeta Terra, ou seja, é uma outra denominação para a Nova Jerusalém, que significa a “Humanidade futura, na posse das bênçãos de
redenção”. Em At
2:20 identifica-se que “o sol se mudará em escuridão e a lua em sangue, antes
que venha o Dia do Senhor, o grande Dia.” (At 2:17-20). Significa dizer que
antes do dia do Senhor viria o período de escuridão sobre os entes que
resplandecem a glória de Deus (Ec 43), a indicar o obliteramento espiritual
conduzido pela besta apocalíptica. Em Jl 3:1-5 e Mt 24:29-31 tem-se o mesmo
escurecimento do sol e da lua. Mt 24:29-31 prevê para depois da tribulação o
retorno de Jesus em glória, vindo sobre as nuvens do céu. Do conjunto desses signos dessume-se que
antes do dia do Senhor está a grande tribulação – período de domínio da besta
apocalíptica – e depois dele abre-se caminho para a o surgimento da Nova
Jerusalém. O fecho “nada, em absoluto, lhe escapa” (Jl 2:3) justifica-se pelo
fato de que cabe ao período intitulado dia do Senhor a purificação efetiva do
planeta, pela extirpação do materialismo e a edificação do paradigma espiritual
em bases sólidas. Compreende-se, pois, a seguinte mensagem assinada por “Um
Espírito”, contida em Obras Póstumas:
“A Terra freme de alegria;
aproxima-se o dia do Senhor, todos os que entre nós estão à frente disputam
porfiadamente por entrar na liça. Já o Espírito de algumas valorosas almas
encarnadas agitam seus corpos até quase despedaçá-los. A carne interdita não
sabe o que há de pensar, desconhecido fogo a devora. Elas serão libertadas,
porque chegaram os tempos. Uma eternidade está a ponto de expirar, uma
eternidade gloriosa vai despontar em breve e Deus conta seus filhos.” (Obras
Póstumas — 2ª Parte, Cap. 25)
Voltando às passagens bíblicas que tratam
do dia do Senhor, em algumas podem ser identificadas menções a imagens que
correspondem à previsão de vinda do Espiritismo. Assim é que em Atos dos
Apóstolos (At 2:17-20) menciona-se para o período o espraiamento da mediunidade
(= espírito derramado sobre toda carne), e seus efeitos sobre as pessoas: “vossos
filhos e vossas filhas profetizarão, vossos jovens terão visões e vossos velhos
sonharão”. Os fenômenos mediúnicos são referidos pelos símbolos do aparecimento
de prodígios nos planos superiores e sinais sobre a terra. Há, ainda, outras
ilustrações significativas que denominamos de agentes do Espiritismo, a exemplo
das seguintes: (i) o filho do homem
chegando sobre nuvens (Mt 24:30), (ii)
a reunião dos eleitos dos quatro ventos, de uma extremidade a outra (Mt 24:31),
(iii) o envio de um novo mensageiro,
que prepararia um caminho (Ml 3:1), (iv)
o advento de um anjo para uma nova aliança, que adentraria nos assuntos do
espírito (= Templo) para promover verdadeira limpeza, daí a alusão ao sabão ou
lixívia dos lavadeiros (Ml 3:2) e à purificação (Ml 3:3), (iv) o julgamento dos traidores da aliança (Ml 3:5), (v) a retribuição divina (= ira) (Ap
6:10). Todos esses símbolos relevantes para a missão do Espiritismo serão
comentados em momento oportuno. Do conjunto dessas passagens pode-se
compreender que o Espiritismo é um ponto de interseção entre a grande
tribulação e o dia do Senhor. Está no final do primeiro período, que terminou
em 1870, quando já se encontravam compilados os trabalhos de Allan Kardec. E marca
o início do segundo período, uma vez que é a partir do Espiritismo que se
promove o resgate dos ensinamentos do Cristo e a renovação da religiosidade,
conduzindo a humanidade à regeneração e ao paradigma de mundo ditoso (= Nova Jerusalém).
Por isso, o Espiritismo também é assunto central para o Apocalipse.
Avaliado o cerne da estrutura quiástica,
pode-se ampliar um pouco mais o ângulo de análise para estudo de quais das
antigas revelações acerca do futuro foram abordadas pelo texto do Apocalipse.
Com a ciência espírita, que atesta e elucida a faculdade de presciência, é
possível identificar-se nas escrituras bíblicas inúmeras previsões mediúnicas
sobre fatos para tempos futuros. Mereceu a atenção de Kardec o conjunto dos “profetas
falando por inspiração e anunciando a vinda do Messias.” O dedicado
sistematizador aponta as seguintes passagens que previram a chegada de Jesus: Nm
24:17, Dt 18:18, 19, 1Cr 17:11 a 14 (Paralipômenos), Is 7:14, Is 41:1 a 4, Is
53:11, Zc 9:9,10, Mq: 5:4. (Obras Póstumas, Primeira Parte, Cap. 9, item VII).
Jesus mesmo destacou por diversas vezes o fato de que seu testemunho
concretizava a mediunidade de presciência contida nas escrituras antigas, como
ilustra a seguinte passagem, relativa ao diálogo travado com os discípulos a
caminho de Emaús:
“Ele, então, lhes disse:
Insensatos e lentos de coração para crer tudo o que os profetas anunciaram! Não
era preciso que o Cristo sofresse tudo isso e entrasse em sua glória? E,
começando por Moisés e por todos os Profetas, interpretou-lhes em todas as
Escrituras o que a ele dizia respeito.” (Lc 24:25-27)
Existem, por outro lado, previsões para
fatos posteriores à presença física do Cristo no planeta, entre as quais podem
ser citadas: (i) o tempo do fim (Dn
8:17, 8:19, 12:5-13, 12:10), (ii) o
fim dos tempos (Ec 48:24, 1Co 10:1), (iii)
o fim dos dias (Jr 23:20,21, Dn 2:28, Mq 4:1-4), (iv) a grande tribulação (Dn 12:1, Mt 24:21, 24:29, Jo: 14:30,
16:1,2, Ap 7:14), (v) o dia do senhor
ou o dia de Iahweh (At 2:17-20, 2Ts 2:1-4, 2Pe 3:10, Ml 2:17, 3:1-5, Ap 1:10),
(vi) o grande dia (Jr 30:7, Sf 1:14,
At 2:20,21, Jd 1:6, Ap 6:17), (vii) o
dia do julgamento (Ex 28:15, 28:29, Ec 8:5, 33:13, Is 24:1-6, 34:8, 65, Jr
48:47, Ez 17:20, Jl 4:1-3, Mt 11:22, 25:31-34, Jo 16:8-11, 2Pe 3:7, Ap 14:7, Ap
16:7, Ap 17, Ap 19:2, Ap 18:10, Ap 20:11), (viii)
a atuação divina sobre o lagar da vinha (Is 63:1-6, Ap. 14:18-20), (ix) o aparecimento do arco sobre nuvens (Gn 9:14-16, Ez 1:27,28, Ap 4:3, 6:2, 10:1), (x)
o retorno de Jesus (Mt 16: 27,28, 23:37-39, Mc 14:62, Jo 14: 18,19, 14:28, Ap
3:11), (xi) o envio do Consolador
prometido (Paráclito) (Jo 14:15-17, 14:26, 15:24-27, 16:5-15), (xii) a vinda do reino (Dn 7:14), (xiii) a Nova Jerusalém (Is 54:11-17, Ap
21:2). Todas elas são incorporadas na grande revelação mediúnica que é o
Apocalipse de João.
Sustentamos que as referências “tempo do
fim”, “fim dos tempos” e “fim dos dias” são as mais genéricas e abarcam a
grande tribulação e o dia do Senhor. As expressões “o grande dia” e “dia de
Iahweh” são outras denominações para o mesmo período chamado de dia do Senhor.
O julgamento futuro recai sobre a última “Jerusalém desviada” e, reflexamente,
sobre a Grande Babilônia. Ao longo do texto do Apocalipse é possível avaliar
que o âmbito da religiosidade é simbolicamente julgado pelo próprio Espiritismo
(e.g., Jo 16:8-11). A atuação divina
sobre o lagar da vinha é uma ilustração de Deus agindo na extração do “vinho
puro”, por intermédio dos seus emissários diretos – os espíritos superiores –
vez que os homens encarnados (= vinhateiros ou lavradores) falharam na condução
dos assuntos sublimes. Essa ação é a manifestação dos espíritos pelos quatro
cantos, espalhando os ensinamentos espirituais sem a intermediação do institucionalismo
religioso. O aparecimento do arco-íris sobre nuvens (e.g., Gn 9:14-16) significa que uma nova proposta de aliança viria
à humanidade. Essa imagem soma-se à de Jesus sobre nuvens (Ap 4:3, 10:1-2) e
está diretamente relacionada com a volta do Mestre (Mt 24:30). O chamado
retorno de Jesus, ou sua segunda vinda ao planeta, também é um símbolo, pois se
concretiza pelo resgate da essência cristã promovido pelo Espiritismo. É sempre
importante lembrar que Kardec dedicou-se ao estudo das predições bíblicas, como
se pode constatar no Capítulo XVII do livro A Gênese. Sobre a prevista segunda
vinda do Cristo, ele anotou:
“Jesus anuncia seu segundo
advento, mas não diz, absolutamente, que voltará sobre a Terra com um corpo
carnal, nem que o Consolador será personificado nele. Ele se apresenta como
devendo vir em Espírito, na glória de seu pai, julgar o mérito e o demérito e
levar a cada um conforme suas obras, quando os tempos forem chegados.” (A
Gênese, Cap. XVII, item 45).
O dedicado sistematizador compreendeu que
se dizia respeito “ao reino futuro de Cristo”, ou seja, ao “tempo em que sua
doutrina, melhor compreendida, será a lei universal.” (A Gênese, Cap. XVII,
item 46).
O envio do Consolador prometido (Paráclito)
(Jo 14:15-17, 14:26, 15:24-27, 16:5-15) corresponde à vinda do Espiritismo e
sobre este ponto Kardec tece importantes considerações no Capítulo VI – O
Cristo Consolador – de O Evangelho Segundo o Espiritismo. Por fim, a vinda do
reino e a Nova Jerusalém são ilustrações da humanidade futura após a fase de
regeneração.
Tenha-se o esquema gráfico abaixo, que
objetiva uma compreensão panorâmica das mencionadas previsões sobre o futuro:
Note-se, então, a importância de
compreender-se a função do Espiritismo para o adequado entendimento do
Apocalipse.
Avançando-se no conteúdo da revelação, cabe
esclarecer que no centro de sua estrutura quiástica encontra-se também o tema
do julgamento. Mas quem é julgado? Especificamente, tem-se o mais relevante
julgamento que é o da besta apocalíptica (Hb 10:29-31, Pv 23:27-32) e, reflexamente, o da Grande Babilônia (Ap
14:6-12). Cuida-se de um julgamento futuro (Is 65) e do último, pois está
previsto para o fim dos dias (Jr 48:47) e associado ao chamado retorno de Jesus
em sua glória (Mt 16:27, 28, 25:31-34). No estudo anterior avaliou-se o
intervalo quiástico, de menor proporção, contido em Ap 6:12 a 6:17, segundo a
proposta de leitura apresentada por Pieter De Villiers.
O trecho trata do julgamento divino, representado pelo símbolo do terremoto
(e.g., Is 13:13, 24:18-23, Jl
2:10,11, Is 64:2). No centro de sua estrutura destacam-se aqueles que serão
especialmente submetidos ao julgamento: os capitães, os ricos e os poderosos.
Esse julgamento é, em verdade, a retribuição divina face a incidência recalcitrante
no desvio (e.g., Mt 16:27, 28, Ez 7). E no
Evangelho de João está claro que o julgamento-retribuição consiste na própria
vinda do Espiritismo, o Consolador ou Paráclito:
“No entanto, eu vos digo a
verdade: é de vosso interesse que eu parta, pois, se eu não for, o Paráclito
não virá a vós. Mas se eu for, enviá-lo-ei a vós. E quando ele vier,
estabelecerá a culpabilidade do mundo a respeito do pecado, da justiça e do
julgamento: do pecado, porque não crêem em mim; da justiça, porque vou para o
Pai e não mais me vereis; do julgamento, porque o Príncipe deste mundo está
julgado. Tenho ainda muito que vos dizer, mas não podeis agora suportar. Quando
vier o Espírito da Verdade, ele vos conduzirá à verdade plena, pois não falará
de si mesmo, mas dirá tudo o que tiver ouvido e vos anunciará as coisas
futuras. Ele me glorificará porque receberá do que é meu e vos anunciará.” (Jo
16:7-14)
Por isso, no Capítulo 14 do Apocalipse, antes da
apresentação de símbolos que indicam o advento do Espiritismo (Ap 14:14-20),
consta o anúncio da hora do julgamento (Ap 14:1-13). Assim, de que trata esse julgamento que
seria desempenhado pelo Espiritismo? Da restauração dos ensinamentos espirituais superiores, ilustrada pelo resgate da
vinha que, produtiva, volta a "fabricar o vinho puro", cabendo lembrar da parábola
dos lavradores maus. Refere-se ao julgamento dos desvios em contraste com as
verdades anunciadas pelos espíritos, sobretudo no círculo dos assuntos da
religiosidade essencial. Em outras palavras, é a luz que julga as trevas.
O estudo do núcleo quiástico e das
previsões contidas no texto leva à conclusão de que o Apocalipse é uma
revelação geral que compila as mais importantes revelações de presciência da
Bíblia, com a exceção, obviamente, da profecia que anunciava a vinda do Messias
no plano da carne, que já havia se concretizado antes da psicografia de João.
Nessa etapa da avaliação do objeto do
Apocalipse, pode-se compreender a grande revelação na sua integração com o
livro de Daniel. A humanidade tem sido preparada para a revelação do Apocalipse
desde os tempos mais remotos. E boa parcela da mensagem foi adiantada por meio
do livro de Daniel. Conforme já dito, pela esclarecedora síntese de Wallace
Oliveira, o Apocalipse é a “continuidade das revelações do livro de Daniel”. No que diz respeito ao objeto do
Apocalipse, cabe apenas frisar que a mediunidade de presciência do Cristo
anteviu os passos gerais da humanidade muito antes da comunicação mediúnica com
João, fato que pode assombrar alguns espiritualistas céticos quanto à amplitude
da cognição de espíritos desmaterializados. O fato, entretanto, é que Daniel
adianta, com o emprego dos símbolos comentados acima, o roteiro antevisto para
as babilônias e para a “penúltima Jerusalém”, aquela que eleva ao cúmulo o
desvio dos ensinamentos espirituais. Ainda, Daniel dá a pista de que, no
futuro, esses âmbitos – do poder temporal e da religiosidade desviada – se
entrelaçariam ao ponto de se confundir. Na linguagem do livro antigo, seriam
misturados por casamentos (Dn
2:43). É essa a aparente fusão contida no Capítulo 17 do livro do Apocalipse,
como se verá no momento adequado. Igualmente, os registros de Daniel mencionam o período
de restauração da humanidade, após a ação dos ensinamentos superiores, conforme
a ilustração da pedra (ensinamento parcelar) que se destaca da montanha (Deus)
para reduzir a pó as invencionices criadas pelas mãos humanas. Desse conjunto,
pode-se perceber que o livro de Daniel prevê traços da grande tribulação e do
dia do Senhor.
Pelo ângulo do recorte temporal, viu-se que
o Apocalipse diz respeito ao período que medeia entre a comunicação mediúnica
com João – de acordo com Emmanuel, “alguns anos antes de terminar o primeiro
século” até a fase de mundo feliz ou ditoso. O texto não chega a explorar este último
período, apenas consigna vislumbres de suas características gerais. Entre os
símbolos e a forma espelhada ao estilo quiástico, existe uma mensagem com
início, meio e fim. Por isso é que se pode afirmar pela existência de uma
cronologia no Apocalipse, em que pese a forma do espelhamento quiástico que o
caracteriza.
Do ângulo temático e em perspectiva ampla, o
Apocalipse versa sobre (i) o extenso
período de deturpação dos ensinamentos do Cristo, face o predomínio da besta
apocalíptica; (ii) o destino da Grande Babilônia, relacionada à cultura ariana que será avaliada oportunamente; (iii) a fase de renovação da humanidade.
Cabe, ainda, destacar, como linhas de fundo
a conduzir o Apocalipse de João, a impenitência da civilização moderna e os
conflitos ideológicos em torno da personalidade de Jesus. Confira-se, a
propósito, a síntese apresentada por Emmanuel no livro A Caminho da Luz:
“Alguns anos antes de terminar
o primeiro século, após o advento da nova doutrina, já as forças espirituais
operam uma análise da situação amargurosa do mundo, em face do porvir.
Sob a égide de Jesus,
estabelecem novas linhas de progresso para a civilização, assinalando os traços
iniciais dos países europeus dos tempos modernos. Roma já não representa,
então, para o Plano Invisível, senão um foco infeccioso que é preciso
neutralizar ou remover. Todas as dádivas do Alto haviam sido desprezadas pela
cidade imperial, transformada num vesúvio de paixões e de esgotamentos.
O Divino Mestre chama aos
Espaços o Espírito João, que ainda se encontrava preso nos liames da Terra, e o
Apóstolo, atônito e aflito, lê a linguagem simbólica do Invisível.
Recomenda-lhe o Senhor que
entregue os seus conhecimentos ao planeta como advertência a todas as nações e
a todos os povos da Terra, e o velho Apóstolo de Patmos transmite aos seus
discípulos as advertências extraordinárias do Apocalipse.
Todos os fatos posteriores à
existência de João estão ali previstos. É verdade que frequentemente a
descrição apostólica penetra o terreno mais obscuro; vê-se que a sua expressão
humana não pode copiar fielmente a expressão divina das suas visões de
palpitante interesse para a história da Humanidade. As guerras, as nações
futuras, os tormentos porvindouros, o comercialismo, as lutas ideológicas da
civilização ocidental, estão ali pormenorizadamente entrevistos. E a figura
mais dolorosa, ali relacionada, que ainda hoje se oferece à visão do mundo
moderno, é bem aquela da igreja transviada de Roma, simbolizada na besta
vestida de púrpura e embriagada com o sangue dos santos.”
Alguns trechos do texto em
epígrafe merecem ser comentados. Emmanuel explica que no final do primeiro
século as potestades espirituais fizeram uma análise da situação delicada do
planeta, diante dos anos que se seguiriam. Este indicado levantamento está em
sintonia com os primeiros capítulos do Apocalipse e com o Mane (“contou Deus o teu reino”) do livro de Daniel. Desde o
primeiro século os espíritos puderam constatar a lamentável perspectiva de
assimilação dos ensinos do Evangelho. Foram, então, estabelecidos novos planos
de progresso para a civilização a partir das comunidades situadas na Europa. É
muito importante destacar que de acordo com a explicação de Emmanuel Roma já
não apresentava relevância para auxiliar as forças espirituais superiores sobre
o orbe. Pelo contrário, afigurava-se como um problema. Essa informação indica
que não se faz pertinente a correlação do Império Romano com a Grande Babilônia
cuja queda foi prenunciada. Na linha do mesmo relato, Jesus esclarece a João
que o objetivo do Apocalipse é servir de advertência para a humanidade. O texto
também aponta para o recorte temporal acima referido: o Apocalipse trata de
eventos posteriores à existência de João. Emmanuel indica, ainda, elementos
presentes por detrás da simbologia do Apocalipse: (i) as guerras; (ii) as
nações futuras, (iii) os tormentos
porvindouros; (iv) o comercialismo; (v) as lutas ideológicas da civilização
ocidental; (vi) a igreja transviada de
Roma, simbolizada na besta vestida de púrpura e embriagada com o sangue dos santos.
Os acontecimentos pontuais encartados no período mais amplo, referido como
tempo do fim, fim dos tempos ou fim dos dias, podem ser explicados
sinteticamente como a história da humanidade na senda da aceitação ou rejeição
à lei de amor exemplificada pelo Cristo. O Livro das Revelações, pois, pode ser
resumido como a saga moral de uma coletividade após receber a visita encarnada
de seu Cristo Planetário. O Apocalipse, portanto, é o livro que trata do
roteiro da humanidade na linha da lei de causa e efeito e à luz de uma
específica responsabilidade: a frutificação do Evangelho nos corações de cada
indivíduo, a resultar na regeneração da coletividade humana. Recorrendo-se à
simbologia da parábola dos lavradores maus (Mt 21:33-46, Mc 12-1-12, Lc
20:9-19), é possível focar o Apocalipse como Jesus, ao lado do Apóstolo João,
mostrando-lhe a visão prospectiva da “vinha resgatada”, até os limites do
horizonte, no roteiro do crescimento almejado e com a consequente produção dos
frutos, na proporção de cem por um (Mc 4:20). O objeto do Apocalipse é a
renovação das concepções religiosas do mundo, com a consequente assimilação por
parte dos homens, antevista na figura da Nova Jerusalém. E sob a condução de
Jesus, o mestre do planeta. Em razão desse magno direcionamento, o Apocalipse
centra-se na jornada terrestre em sua última fase, a caminho da luz.
A Bíblia inicia-se pelo livro de
Gênesis e nele encontramos referências ao Éden (Gn 2:8, 2:10, 2:15, 3:23, 24,
4:16). Não pretendemos, aqui, exaurir a exegese, mas é curioso notar que a
figura do Éden abre e fecha a Bíblia. Dentre os vários sentidos que podem ser
atribuídos ao símbolo, constata-se mensagens dos espíritos a indicar: (i) o paraíso perdido e lembranças desse
local; (ii) o próprio planeta Terra, considerado
em sua pureza e potencialidade; (iii) o futuro da Terra; (iv) a noção de mundos superiores. Não é
por outro motivo que Emmanuel revela, no livro A Caminho da Luz, que tradições
das raças primevas acerca do paraíso perdido consistiam em reminiscências
distantes da parte dos espíritos degredados de um mundo superior, que orbita
Capela, e que foram posteriormente gravadas na Bíblia.
Percebe-se, portanto, que a essência do símbolo do Éden, segundo o foco da
realidade espiritual, é a de mundos superiores. Nesse sentido, compreende-se
que o Apocalipse conduz toda a trajetória da Bíblia a um Éden final, que se
estabelecerá no planeta, representado pela Nova Jerusalém, que por sua vez
corresponde à humanidade redimida. Em outras palavras, a Nova Jerusalém é a
Terra em estágio de mundo ditoso, concretizando o Éden. Dessa forma, o
Apocalipse é o fecho perfeito da Bíblia. Aquele “paraíso perdido”, positivado
no livro da Gênese, representa de fato as lembranças profundas de toda uma
coletividade que foi afastada de um mundo em regeneração. Outro “paraíso” será
estabelecido aqui, neste planeta, após a assimilação e a concretização dos
ensinamentos do Cristo. A Grande Revelação, assim, demonstra a Bíblia de um Éden
(= lembrança do mundo anterior) a outro (= Nova Jerusalém) e nesse particular
pode-se concluir qual é objeto do Apocalipse segundo o encadeamento dos ciclos
gerais previstos nas escrituras.